terça-feira, 11 de julho de 2017

O Sétimo Doutor é muito mais que desvalorizado

Texto traduzido do Destornillador Sonico.

  


Tudo começou em 1987. A 23ª temporada, mais conhecida como O Julgamento de um Senhor do Tempo, encerrou a polêmica etapa de Colin Baker como o Sexto Doutor, sendo o primeiro e único ator na história da série a interpretar o Senhor do Tempo que foi despedido do papel (sem cena de regeneração). Foi talvez a época mais agitada da série; uma amálgama de diferentes fatores que foram o princípio do fim para a série clássica: pessoas dentro da BBC que não acreditavam na ficção científica e faziam roteiros de má qualidade. Tende-se a culpar o ator Colin Baker desse fracasso por ser a cara visível da série, mas a verdade é que ele extraía ouro dos roteiros que lhe davam. Não acredito que ninguém jamais se equivocará ao escolher um ator para interpretar o papel, mas esse tema merece outro artigo a parte.

E chegou a vez do Sétimo Doutor e Sylvester McCoy foi o escolhido. Se você procurar imagens dele poderá vê-lo caracterizado: um homenzinho sorridente; baixinho, com seu mítico chapéu, agasalho de pontos de interrogação e guarda-chuva e com pinta de inofensivo. Mas como diz o ditado: as aparências enganam...

Com o Sexto Doutor, John Nathan-Turner (o produtor de então) e seus roteiristas quiseram mudar bastante a figura do Doutor, querendo mostrar pela primeira vez que tinha um lado obscuro (reconheçamos, apesar de suas diferenças e a dose normal de arrogância, os Doutores anteriores eram muito bondosos). O problema é que a dita transição foi brusca demais, retratada à perfeição na cena de pós-regeneração de O Dilema do Gêmeos (talvez o pior episódio da história de Doctor Who) em que o 6º estrangula repentinamente a sua companheira Peri; e é melhor nem falar do casaco de arco-íris que escolheram para ele. Talvez porque em 1987 a série tinha data de validade, decidiram fazer no tempo que restava as coisas o melhor possível com uma evolução mais lenta e sutil, além de necessária, já que McCoy era um ator que vinha do gênero cômico: daí a 24ª temporada com Mel, que foi muito mais leve do que o que veio depois...

As temporadas 25 e 26 (talvez seja algo muito subjetivo dizer) estão cheias de preciosidades: Recordação dos Daleks, Luz Fantasma, Campo de Batalha, O Maior Espetáculo da Galáxia e, é claro, minha história favorita dos primeiros 26 anos de série, A Maldição de Fenric. A fórmula normalmente era que o Doutor chega a um local com seus companheiros, ocorre coisas que escapam a seu controle e age em consequência. Com o 7º passamos dos Doutores passivos ao Doutor proativo, ou como gosto de chama-lo: “O obscuro mestre de xadrez universal”. Na maioria de suas aventuras, chega a um lugar e, desde o início, está envolto em um de seus super-planos mestres, quer que tenha percebido desde o início ou não (coisas de viajar no tempo) e quase sempre ocultando suas intenções a seus acompanhantes (coisa que, às vezes, termina por cobrar seu preço). Nesse tipo de história, o Doutor de McCoy dá a impressão de ter todas as cartas na mão em 99% do tempo. Para os que veem “Guerra dos Tronos”, em certo sentido é como o Petyr Baelish de Doctor Who.

Parte da beleza de sua época se deve, na minha opinião, à escolha de elenco para a nova companheira do Doutor: Sophie Aldred como Dorothy “Ace” McShane, uma desajustada com problemas familiares que em seu tempo livre bate em Daleks com bastões de beisebol e usa uma bazuca para explodir o rosto deles. Poderia dizer que assim recuperaram de certa forma essa espécie de relação “avô-neta” dos primeiros anos da série com o Primeiro Doutor e Susan. Para mim, a química que tiveram não a iguala ou supera ninguém mais e é adorável a confiança que chegam a ter (de fato, ela o chama de “professor”). E sempre pensei que se a série não tivesse acabado daquela forma, poderiam ter se convertido em um par tão popular como foi em seus dias o 4º e Sarah Jane Smith. É o exemplo perfeito de que a soma das partes é maior que seu valor individual, que também é tremendo. Ace fica perfeitamente bem por conta própria e, apesar de ser uma mulher de ação, sabe utilizar a cabeça e a boca muito bem (coisa que tentaram fazer com Clara na 8ª temporada da Série Atual).

Em resumo, não vou insultar a todos os demais dizendo que ele foi o melhor, mas (como pode ser inferido a partir de tudo o que foi escrito acima) sim, é o favorito deste que vos escreve; e entre episódios da televisão e histórias da Big Finish (com sua voz tão única e particular e onde há mais liberdade para passar dos limites de vez em quando) eu estaria mentindo para mim mesmo se continuasse a dizer que o 11º é o meu favorito (talvez porque quando comecei era ele). E acredito que é por esse lado do Doutor inexplorado até então. Esperarei até que termine a era de Peter Capaldi para avaliá-lo por completo, de quem Steven Moffat ultimamente gosta de dizer que é “o Doutor mais obscuro que já houve”. Sinto muito, Moffat, mas até agora creio que esse título pertença ao 7º; a atitude fria e sarcástica de Capaldi remete mais ao 6º. Sylvester McCoy é associado a ser um dos piores Doutores da série. E até menos. De tudo o que escrevi poderia parecer que digo que o Sétimo Doutor é malvado. Nada mais distante da verdade: continua sendo esse Senhor do Tempo curioso por ver o universo e o tempo e a quem gosta de ajudar aos que estejam com problemas. Mas caso ocorra a alguém olhá-lo torto ou tente machucar alguma das pessoas que importam para ele, esta frase de Agnes Skinner de Os Simpsons descreve à perfeição esta faceta sua: “... ele mata você cinco vezes antes que toque o chão”.

Nota do Tradutor

Não concordo 100% com o texto acima - apesar de concordar demais com algumas parte, como na que diz que tentaram e não conseguiram transformar a Clara em uma nova Ace -, mas quis traduzi-lo por considerá-lo uma ótima leitura para quem se interessa por Dr. Who e por acreditar que quanto mais conteúdo da Série Clássica em português, melhor. Além de que o próximo artigo a ser publicado no Aniliquajo será um compilado de três textos sobre o Sexto Doutor, que conta com texto do JaviVD, o autor do texto acima. Minhas opiniões sobre esses e os outros Doutores ficará para um artigo futuro, baseado no livro 12 Doutores, 12 Histórias. E se eu tiver traduzido algo errado, não se acanhe, pode me corrigir. Lembrando que eu adaptei algumas partes para melhor entendimento. Traduzir é adaptar, afinal de contas...